Ponyo – Uma Amizade que Veio do Mar (Gake no ue no Ponyo), de Hayao Myiazaki (Japão, 2008)por Fábio Andrade De volta Aqueles que só conhecem o trabalho mais recente de Hayao Myiazaki podem ficar um tanto desorientados diante de Ponyo. Não há resquício, aqui, do acento épico de filmes como A Viagem de Chihiro, A Princesa Mononoke ou mesmo do clássico Nausicaä. Embora todos os seus filmes sejam marcados por uma liberdade de pensamento nada adulta, Não deixa de ser curioso que, após duas décadas explorando o hibridismo fantástico de seus filmes mais maduros (fantástico que, Tal correção, em primeiro lugar, é uma questão de traço. Enquanto a animação em 3D de Pixar e cia se empenha cada vez mais no aprimoramento de sua potência mimética,Ponyo traz um Myiazaki de mão soberbamente solta. Embora o diretor seja talvez o mais famoso defensor da animação à mão em todo o mundo, seu traço sempre foi de enorme precisão. Em Ponyo, porém, os desenhos ganham uma fluidez inédita em sua obra, trocando as cores brilhantes e bem definidas de A Viagem de Chihiro por uma palidez extremamente harmônica, mais próxima de um trabalho Essa opacidade é essencial, e é por ela que Myiazaki chega à característica central dePonyo: profundidade. Pois há todo um jogo entre opacidade e profundidade, no filme, que não diz respeito somente à composição visual, mas também às operações de sentido que lhe interessam. O mar, mesmo que visualmente opaco e impenetrável, é de uma riqueza acachapante de tons, brilhos e formas de vida. Tudo que parece intransponível – ou, se quisermos fazer um comentário metalinguístico, tudo que existe em 2D – esconde enorme profundidade, e é justamente nessa surpresa que o cinema se faz: algo que sabemos ser duro, finito e chapado como uma parede, mas é capaz de se desdobrar em formas e dimensões que, na impecabilidade ilusionista do próprio truque, são fisicamente impossíveis. O cinema em 3D é apenas a revelação ostensiva de uma operação de falseamento que já é realizada plenamente no 2D – da qual os óculos se fazem o ápice da perversidade barroca. É interessante que, com essas particularidades, Ponyo se revele o verdadeiro anti-Shrek – como se a obsessão da animação computadorizada com a profundidade de um nariz ou de uma barriga saliente fosse a testemunha do descaso à profundidade que realmente interessa: a do universo ficcional. Ponyo declara isso fazendo aquilo que só a animação pode fazer sem cortes: mostrar o exato momento em que um ser altera sua condição, transformando-se de peixe em menina em um único e contínuo plano. É essa a questão essencial (que, inclusive, existe também Agosto de 2010editoria@revistacinetica.com.br |
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Critica copiada na integra da revista digital, sobre cinema, cinética.
http://www.revistacinetica.com.br/ponyo.htm
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